Para desenvolver efetivamente uma educação cidadã e de qualidade, não basta instalar laboratórios de informática nas escolas e utilizar o computador como substitutivo das ferramentas tradicionais usadas pelo professor em sala de aula. É preciso desenvolver um espaço e um tempo para as novas arquiteturas pedagógicas, em que o Laboratório de Informática seja um espaço interdisciplinar, seu professor responsável atue como um servidor de apoio, administrando o hardware e disponibilizando multimídias e recursos hipermididáticos para um trabalho em parceria com seus pares nos diferentes campos do saber.
A aprendizagem se faz significativa, no momento em que a criança percebe a utilidade e aplicação daquilo que aprende. Com o uso das Tecnologias Digitais, essa significação é dupla, na medida em que o aluno aprende interagindo com as máquinas e utilizando esses novos conhecimentos para fazer intervenções cada vez mais complexas. A aprendizagem com o uso de mídias se reveste da intencionalidade de provocar na criança o processo de aquisição e interpretação da língua escrita e da realidade, e usá-los realimentando o processo de investigação e experimentação que o uso da máquina exige (PAPERT, 1994).
O uso das tecnologias da Informação promove transformações na convivência, no tempo, no espaço e na relação com a construção do próprio conhecimento.
É através do contato com o outro que desenvolvemos a capacidade de nos construir, enquanto construímos o mundo ao nosso redor[1] (MATURANA apud REAL, 2007). As mídias dão o suporte adequado para a realização das aprendizagens, pois contemplam três etapas importantes no processo cognitivo, a instrução, a experimentação e construção de conhecimentos. As atividades mediadas por computador, por exemplo, dão aos alunos a oportunidade de refletir sobre suas ações de maneira independente; de agir em conjunto com seus pares, contando com a ajuda dos colegas e ajudando uns aos outros. O aluno é capaz de organizar as informações, com base em suas experiências anteriores, somadas as dos colegas para, diante do desafio proposto pela máquina, resolvê-los, desenvolvendo a capacidade de aprender a aprender (SPIRO & JEHNG, 1990).
Essas mudanças acontecem, porque o aluno se associa a outro aluno para juntos resolverem problemas oferecidos por atividades que envolvam o uso de máquinas, por si só desafiantes, para poderem desenvolver a atividade proposta pelo professor (criação de um curta, por exemplo).
Atividades planejadas com o uso de mídias, permitem que o aluno aprenda e desenvolva as habilidades necessárias para o seu uso no desenvolvimento da própria atividade, permitindo o emprego de Arquiteturas Pedagógicas importantes para a formação de sujeitos que estão sempre dispostos a aprender a aprender, competência altamente valorizada no mundo atual[2] (Cf. CARVALHO et al, 2005).
Outra característica, com as máquinas, não há constrangimentos, pois certo ou errado fazem parte do processo de ação/reflexão/depuração/ação, fazendo o aluno encarar o que não deu tão certo, também como aprendizagem, como parte do processo de construção do conhecimento em que esteve envolvido para concretizar um objeto que represente a síntese do que aprendeu.
As mudanças de postura, diante da própria aprendizagem, acontecem porque na interação homem/máquina não há constrangimento perante o "erro", pois errar faz parte do processo de ação/reflexão/depuração/ação que os alunos realizaram durante a construção do conhecimento (PAPERT, 1994), que envolve entrada, acesso e desenvolvimento da atividade, constituindo-se num desafio capaz de modificar seu sistema de assimilação. Ou seja, acontece aprendizagem porque os alunos se descobrem sujeitos e aprendem construindo sozinhos, através da tentativa, do acerto e do erro, sem a apreciação negativa, por parte de um colega ou do professor, fazendo com que organizem, acomodem, assimilem e equilibrem o novo conhecimento mudando a conduta de heteronômica para autônoma. Para Piaget (1976), a adaptação está na base do funcionamento intelectual e do funcionamento biológico, condição para a aprendizagem. A adaptação e a organização são processos diferentes e complementares que fazem parte do mecanismo de equilibração. Da mesma forma que a assimilação e a acomodação, situação em que a criança integra elementos novos às suas estruturas cognitivas existentes, que podem ser, mais ou menos, modificadas sem, contudo, serem destruídas, acomodando-as de maneira contínua. Em outras palavras, a acomodação é toda modificação dos esquemas de assimilação sob a influência de situações exteriores, o meio. O que explica o desenvolvimento intelectual da criança e permite o planejamento de atividades para a construção de aprendizagens cada vez mais complexas. A equilibração, portanto, é o mecanismo que auto-regula a interação eficiente da criança com o meio, permitindo a conservação das novas estruturas, no caso das acomodações terem sido bem sucedidas.
Mesmo quando os alunos escolhem sentar sozinhos, ou a direção do trabalho, com a máquina, assim o exige, eles não realizam um trabalho isolado; estão sempre interagindo, dando dicas ou suporte, uns aos outros. É o que nos aponta Vigotisky (1996), sobre como se dá a criação da cultura na sociedade e a influência das relações sociais no desenvolvimento intelectual da criança. Idéias precursoras das correntes pedagógicas sócio-construtivistas, que continuamos investigando até hoje, gerando um corpo teórico.
Tanto em Maturana (1998), como em Vigotisky (1998), encontramos a importância da linguagem relacionada diretamente à qualidade das aprendizagens. Ambos afirmam que só podemos construir uma linguagem específica interagindo dentro do nosso meio sociocultural, ao mesmo tempo em que, a interação com o meio dá forma ao nosso próprio desenvolvimento. Vigotisky conferiu importância à dimensão social da linguagem e das relações possíveis por meio dela na construção do sujeito psicológico, estritamente importante para os processos de aprendizagem.
De maneira resumida, Vigotisky identificou o resultado do processo descrito por Piaget de como as modificações acontecem na estrutura intelectual da criança. Vigotisky denominou de zona de desenvolvimento real, aos esquemas que a criança já assimilou e acomodou, ou seja, o resultado do processo de equilibração descrito em Piaget e de zona de desenvolvimento proximal, aquilo que a criança ainda não completou no seu processo de equilibração; está se adaptando para organizar as informações, assimilá-las e acomodá-las em algum espaço de tempo, que dependendo do estágio cognitivo em que ela se encontra e da qualidade das interações que realiza (MATURANA apud REAL, 2007), pode acontecer rapidamente ou levar mais tempo. Tudo o que a criança pode construir quando lhe é oferecido um ambiente desafiador em que pode socializar suas descobertas, um planejamento flexível e a metodologia que melhor se harmonize com o processo de aprendizagem, como o proporcionado por atividades com o uso de mídias.
Querida aluna Mara Rosane!
ResponderExcluirConcordo com as suas colocações referentes ao uso das tecnologias
digitais, é preciso comprometimento do Professor da classe, para que
se concretize o processo das aprendizagens, caso contrário tornará
nula a aplicabilidade das Arquiteturas Pedagógicas.
Saliento esse seu registro “Tudo o que a criança pode construir quando
lhe é oferecido um ambiente desafiador em que pode socializar suas
descobertas, um planejamento flexível e a metodologia que melhor se
harmonize com o processo de aprendizagem”.
Obrigado por suas postagens, vou sentir saudades dessas interações!
Um grande abraço,
Geny